A quimera

A quimera
Minha última quimera!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013



Todo apaixonado,
sempre fica em  condição de abobalhado,
sempre a espiar pela janela,
a espera do ser amado...



Todo apaixonado,
sempre fica em  condição de abobalhado,
sempre a espiar pela janela,
a espera do ser amado...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Solidão


“Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….”

Friedrich Nietzsche



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ORRIS SOARES: ELOGIO DE AUGUSTO DOS ANJOS


Depois de mais um gole, Orris bate com o copo na mesa e diz, um tanto desconsolado, ora um grupo de frases, ora um suspiro, ora um soluço:

- Foi magro meu desventurado amigo, de magreza esquálida – faces reentrantes, olhos fundos, orelhas violáceas e testa descalvada. A boca fazia a catadura crescer de sofrimento, por contraste do olhar doente de tristura e nos lábios uma crispação de demônio torturado. Nos momentos de investigações suas vistas transmudavam-se rapidamente, crescendo, interrogando, teimando. E quando as narinas se lhe dilatavam? Parecia-me ver o violento acordar do anjo bom, indignado da vitória do anjo mau, sempre de si contente na fecunda terra de Jeová. Os cabelos pretos e lisos apertavam-lhe o sombrio da epiderme trigueira. A clavícula, arqueada. No omoplata, o corpo estreito quebrava-se numa curva para diante. Os braços pendentes, movimentados pela dança dos dedos, semelhavam duas rabecas tocando a alegoria dos seus versos. O andar tergiversante, nada aprumado, parecia reproduzir o esvoaçar das imagens que lhe agitavam o cérebro.
- Essa fisionomia, por onde erravam tons de catástrofe, traía-lhe a psique. Realmente lhe era a alma uma água profunda, onde, luminosas, se refletiam as violetas da mágoa. (...) 
- Por muito que de mim procure na memória, não alcanço data mais velha à do ano de 1900, para o começo de minhas relações pessoais com Augusto dos Anjos. Feriu-me de chofre o seu tipo excêntrico de pássaro molhado, todo encolhido nas asas com medo da chuva.
- Descia do Pau d’Arco, sombrio Engenho de açúcar plantado à aba do rio Una, vindo prestar exame no Liceu. O aspecto fisionômico então alertado, e o desembaraço nas respostas anunciavam a qualidade do estudante, cuja fama de preparo correu por todos os recantos do estabelecimento, ganhando foros de cidade. Cada ato prestado valia por afirmação de talento, e de peito aberto louvores se erguiam ao melancólico pai, único professor que tivera no curso de humanidades.
- Não soube resistir ao desejo de travar relações com o poeta. Fui impiedosamente atraído, como para um sítio encantado onde a vista se alerta por encontrar movimento. E de tal forma nos acamaradamos, que, dias depois, lhe devia o exame de latim, desembaraçando-me de complicada tradução, numa ode de Horácio.
- De certa feita bati-lhe às portas, na rua Nova, onde costumava hospedar-se. Peguei-o a passear, gesticulando e monologando, de canto a canto da sala. Laborava, e tão enterrado nas cogitações, que só minutos após deu acordo de minha presença. Foi-lhe sempre este o processo de criação. Toda arquitetura e pintura dos versos as fazia mentalmente, só as transmitindo ao papel quando estavam integrais, e não raro começava os sonetos pelo último terceto.
- Sem nada pedir-lhe, recitou-me. Recorda-me, foram uns versos sobre o carnaval, que o batuque nas ruas anunciava próximo.
- Declamando, sua voz ganhava timbre especial, tornava-se metálica, tinindo e retinindo as sílabas. Havia mesmo transfiguração na sua pessoa. Ninguém diria melhor, quase sem gesto. A voz era tudo: possuía paixão, ternura, complacência, enternecimento, poder descritivo, movimento, cor, forma.
- Dando de mim, estava pasmado, colhido pelo assombro inesperado de sua lira que ora se retraía, ora se arqueava, ora se distendia, como um dorso de animal felino.
- Mais tarde, ouvindo no violoncelo um concerto de Dvorak, recebi a impressão igual, de surpresa e domínio, à do meu primeiro encontro com os versos de Augusto.
- A que escola se filiou? – a nenhuma.
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(1) Fonte: Augusto dos Anjos – Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996
(2) Apud José Lins do Rego, Augusto dos Anjos e o engenho Pau d’Arco. 
(3) Apud José Lins do Rego, idem.


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